31 janeiro 2007

silêncios agudos

'as velas dos barcos que se afastam são o eco da minha voz. sonho turvo de nevoeiro, peso de água oceânica sobre o peito, búzio. dormi muito pouco.

onde poderei viver em perfeito e contínuo silêncio? refugio-me cada vez mais nesta casa destinada à voragem do tempo.

fui jantar à vila e voltei ao anoitecer. nestes últimos dias mal suporto o contacto com os outros. vê-los, ouvi-los e estar com eles cansa-me, dá-me náuseas. amanhã, voltarei a precisar deles. odiar-me-ei com a mesma força com que os odiei.

passei a semana a arrecadar velharias na memória, como se isto remediasse a queda vertiginosa para dentro de meu próprio esquecimento. silêncios agudos circulam no sangue, inexplicáveis, silêncios que parecem irromper dalgum lugar desconhecido do meu corpo, ou de algum órgão adoecendo, distante, oculto'.


[...]


Al Berto, 18 de Maio - 1982

2 comentários:

gaZpar disse...

Escolhes sempre as melhores partes. ;)
Onde vais buscar isto? Nos cantos do coraçao?

Preciouzzz disse...

merci! ;)
do coração e da alma...